O tempo que a memória perdeu de vista e morreu num sábado

Aleluia sim senhor. No Tom irônico de sempre. Do tempo a gente pode dizer alguma coisa, sempre a mesma...
O primogênito primogênito claustrofóbico e emancipado. Armando clarões alucinantes. Atitude suspeita, há que se dizer. Arco. - e não o íris.

Do pato ao ganso, tatuagens sejam insegurança no Futuro. Atitude, alavanca, sabedoria sólida.


(Exercício que aprendi com um amigo poeta nato, ainda que ele próprio não saiba - que me ensinou, nem que é poeta. Consiste em escrever o que vier à tona, com o mínimo de racionalização possível. O ato da releitura e interpretação do que aparentemente não tem sentido passa a revela-lo, enquanto ideias pouco claras tomam forma em autoconhecimento. É impressionante, recomendo).

eu ainda existo.

ainda sou quem me acreditam ser
independente do que me hajam visto (des)fazer
- o que pode soar contraditório e mutuamente exclusivo, em mim
habita harmonicamente

com efeito, só existe bondade se há maldade, assim como
tudo o mais
faço o possível pra direcionar esta a ninguém, a mim próprio,
meu código de conduta.
por vezes falho.

o que determina o caráter é a importância atribuída ao bem estar alheio
e a consciência de culpa da falha quando há.
é uma questão de grau e as escalas são individuais.
por no fim sermos iguais,
hipócritas irmãos.

Refluxo Narcísico

Numa pequena casa de vila, num lugar escondido da cidade, sento-me enviesado no sofá, de forma a observar o rico jardinzinho. Um gnomo em pedra pintada insiste em não se mover. Há musgo em seu chapéu vermelho, é o jardim que o convida a ser parte de um todo, ao qual responde silenciosamente “sim”. O tempo não conta, sequer para mim, do lado de cá do vidro, há menos de metro deles.

Uma presença me inspira a olhar para trás, e quando vejo, é minha cadela que sobe no sofá, apóia seu focinho em minha perna e respira profundamente, fechando os olhos, sob a certeza de que agradarei sua cabeça. O faço e deixo de olhar, entregue à sensação de acariciar o ser amado e que a mim só tem amores. Algo me perturba, me compele para longe. Passo a me concentrar involuntariamente na luz que entra dessa janela outra, aberta desde a noite para que me ajude a despertar a luz solar. O aparelho infernal toca um bipe progressivamente mais rápido e alto. Faz frio. A imagem de minha falecida amada luta por espaço em meu mundo, o gnomo desesperado clama por meu nome. Sinto saudades. O tempo aflito volta a contar. Peço à providência divina mais cinco minutos, e aperto o botão.

Questão de segundos ou milênios e sou novamente um. Quem me acolhe dessa vez são as personagens dos universos virtuais que freqüento em estado de vigília parcial. Um ambiente de jogos, em que o gozo independe do sucesso ou da derrota. Dali para a conversa com meu pai sobre meu hábito de fumar é um pulo imperceptível. Cabe ao cigarro a única esperança de suicídio, e pela tristeza projetada de meu pai, me acomete a mais profunda vergonha; mas sinto; vivo.

Novamente o despertador soa; passaram-se cinco minutos. Faço as contas rapidamente para inevitavelmente concluir que compensa apertar novamente o snooze. De um lado a vivacidade do sonho, sua beleza inerente, a segurança, o conforto e a felicidade de vivê-lo. Do outro, já posso ouvir o barulho incessante e o ritmo frenético da responsabilidade e da cobrança, da pressão aflita e da necessidade de existir; da grotesca interação humana, as opiniões tão divergentes e mutuamente alienadas, o cheiro hipócrita da individualidade, a pútrida falsa alteridade.

Afinal, o que são mais cinco minutos?

Cigarro

25 anos. o auge do controle racional sobre o corpo, o ápice da mente. nesse ponto nunca existirá o "já é tarde demais para parar", pois o vicio é consciente e não há como desvirtuar-se ou perder-se até lá.


diferente de outrem, o inevitável é conhecido, o cálculo foi feito. enxerga-se o horizonte e seus rumos. uma vez determinada a parada final... um caminho tortuoso percorre mais espaço. o tempo que passa é o mesmo em realidade. apenas aparenta ao errante navegante mais lento, e essa é sua sina e seu destino; sua escolha.

secretamente, ele conhece a eternidade das estrelas.

- salvo a quem ignora o poder da monotonia deliberada em lugar de um hedonismo presentista e inconsequente... esse costuma aparecer mais influente que o desejado.


Não que eu seja a favor do uso de drogas, são questões de naturezas diferentes.