Mídia

Gregg, procurando um nicho de mercado, teve a sacada de vender implantes de próteses de testículo a animais castrados.

Neuticles ajudam seu animal a manter a auto-estima, seu "look", e auxiliam na cura do processo traumático que é a castração.

Em entrevista psíquica paranormal exclusiva, Winston, cão de Gregg, nos garantiu que, "graças à invenção de meu dono, pude manter minha masculinidade", diferentemente dos colegas de parque de sábado à tarde que são também castrados: "uma vergonha".

Gripe Suína

577 pessoas morreram de gripe suína no Brasil até ontem. Segundo a Folha e outras fontes online, morreram no ano passado em São Paulo 6.324 pessoas de gripe comum.

São questões de natureza diferente, mas não deixa de ser divertido manipular números - e vidas.

Findo


(remake de um velho texto)
Buscou por entre os livros da estante a Sagrada Escritura, mas só por certeza de que lá estivesse. Caminhou indistinta à cozinha. Percebeu que não havia razão para que ali estivesse e saiu, seguindo à sala e depois ao quarto, para descansar o corpo gasto. Subindo as escadas se perguntou por que se sentia tão triste; a vida lhe fora boa. Ofegante do esforço sentou-se na borda da cama apoiando-se nos joelhos, a cabeça baixa fitando os pés descalços. Mas estava só. Ergueu o olhar carregado para observar o cômodo turvo, fedor de tempo. O embaraço da existência eram os outros, pensou. Não era única, devia aos que com ela estiveram, seria egoísta de deixar tudo para trás assim, súbito. Deitou com as mãos no rosto, e assim as manteve por alguns momentos, como faz quem quer se esconder. Desde pequena pensava que a tristeza era só parte de fases da vida, que um dia aprenderia como viver e seria fácil, o tempo passaria rápido e antes de morrer olharia para trás e veria como fora alegre. Não se aprende a viver, nunca. Abriu os olhos e observou o teto. Piscou algumas vezes, lágrimas emancipadas escorriam às orelhas, onde por fim acabavam absorvidas pelo cabelo. Sentiu saudade dos pais. Daria tudo para receber um beijo do pai. Lembrava exatamente como os adorava, pois pinicavam, da barba cinzenta. Por décadas não ansiou abraçar a mãe e chorar, umedecendo o pescoço daquela que tomava para si cada lamento seu, eram a mesma pessoa. A vista embaçou, as pálpebras pesaram e ela adormeceu.
Acordou hora e meia depois desconfortável, com as roupas frias de suor, a pele gelada. Dormira com a porta da varanda de seu quarto aberta, e a noite caíra, trazendo consigo uma brisa gelada. O corpo tenso de frio doía. Levantou-se e caminhou sonolenta ao banheiro. Há tempo que não se olhava no espelho com atenção. Tinha o medo irracional de não ser quem costumava. Dessa vez lavou o rosto e ao secá-lo percebeu, de relance, um corpo que a continha. Sua existência não era só pensamentos. De forma como nunca havia feito antes examinou sua face, o seu olhar ainda jovem condenado por uma máscara retorcida, disforme, inexpressiva. Estonteada, olhou suas mãos, as costas e depois as palmas. Aquela figura lhe era estranha, como isso podia ser? Como podia ter envelhecido sem desejar, sem nem saber? Nada mudara dentro de si, mas seu corpo então lhe era alheio. Tomou-lhe uma sensação de mal-estar, vertigem. Fechou os olhos e apoiou na parede. Iria vomitar. Vomitar tudo, vomitar a si mesma. Deixaria seu pútrido corpo, livrar-se-ia de qualquer sentimento e de toda a tristeza que assolava seu existir. Abriu os olhos abruptamente e fitou o chão. Alguns dos azulejos brancos já meio amarelados do tempo estavam rachados. A vontade de vomitar esvaíra, agora ela se concentrava no frio que sentia ao pisar descalça naquele ambiente desolado e mal-iluminado. Deixou o banheiro e desceu as escadas pensando em ligar para um de seus filhos. Acendeu as luzes da sala e andou mais devagar. Refletiu, triste, todos os quadros e enfeites meticulosamente colocados; tudo que ela acumulara a vida inteira iria um dia se perder. Cada mínimo detalhe dentro daquela casa contava de sua vida, mas somente a ela. Quando um dia ela falecesse todo esse significado se perderia, e tudo aquilo a que tinha tanto apreço se tornaria lixo.
Chegara ao telefone, mas não mais queria usá-lo. Seus filhos tinham vidas próprias e independentes, não deveriam se preocupar desnecessariamente. A mãe, afinal, é a figura forte, responsável e auto-suficiente. Fora ela quem cuidara deles, e não o contrário. Há muito todos aqueles amigos e parentes que eram os responsáveis por ajudá-la nos momentos difíceis findaram, agora teria de se sustentar só. Resolveu então escrever a si mesma. Sentou em uma das cadeiras estofadas em couro vermelho-escuro que rodeavam a mesa de jantar onde comia sozinha e se pôs a escrever, pensativa. Contou a ela mesma sua vida. Tudo que lembrava.
A noite avizinhava mais densa, uma corrente de ar penetrava a casa pela varanda escancarada do quarto vazio no andar de cima, percorrendo o corredor que dava à escada e descendo à sala e até a janela da cozinha. O vento levantava delicadamente redemoinhos que varriam a poeira acumulada, e os arrastava por sobre as marcas no carpete de onde um dia estiveram móveis. Pouco se ouvia. Somente o uivar do vento e o reclamar das folhas de jornal almejando livrar-se das fitas adesivas que as fixavam nos vãos que já constituíram uma janela. Nada se via também. Nem se sentia. Não havia quem o fizesse. Esteve um dia uma estante de livros onde agora se encontrava apenas o contorno de tinta intocada na parede.

Uma nova experiência

Me refiro à experiência de escrever um Blog. Meu primeiro.

Sou do tipo escritor introspectivo, daqueles que escreve para si mesmo sobre si mesmo. Expor textos ao mundo é quase como subir ao palco nu. Embaraçoso.

Num Blog, porém, me escondo sob um avatar e me sinto protegido no anonimato. Avatares. Me refiro aos pseudônimos que as pessoas assumem na Rede, é claro. A palavra vem da crença hinduísta, segundo a qual avatares são formas materiais dos deuses; homens ou animais. Daí deriva o significado por nós conhecido. Há outro, menos corriqueiro, ao menos no meu universo. "O avatar de um artista", seu processo metamórfico, sua transformação. E é promissor pensar em como os avatares da Internet possibilitam esse tipo de metamorfose; um Eu virtual é pouco reprimido, tem mais liberdade para expressar opiniões controversas ou intimistas, etc. e tal. Afinal é só você e uma tela. Sem pessoas fazendo caras feias ou agindo coercitivamente. A réplica humana vem só depois, não simultaneamente. E de qualquer forma ninguém te conhece realmente, que diferença faz?

Acho isso interessante.