Frases Místicas

Andava eu pelo bairro de Higienópolis. Um belo dia de sol e de suave brisa fresca, com gente animada correndo o perímetro do Parque Buenos Aires, pais ouvintes e filhos falantes, empregadas domésticas e cachorros curiosos.

Mas minha mente divagava por universos obscuros. Eu havia acordado há pouco, atrasadíssimo para o curso, e cruzado a cidade sem sequer tomar um copo d'água ou comer qualquer coisa na esperança de chegar a tempo de responder à chamada e obter a tão valiosa presença, ou reprovaria novamente por falta delas. Havia também conversado com o obstinado professor e tentado me desculpar e provar minha merecida qualificação para que fosse aprovado, apesar das faltas. Grande intensidade emocional.

Agora me abatia a tontura e tristeza da fome e falta de água no organismo. Em meio à caminhada até o carro e de volta para casa, parei para tomar uma coca-cola no mercadinho.

Me ocorreu a péssima escolha de curso e de vida que fizera eu. Não dou para rotina e regularidade. Uma faculdade em geral desinteressante, com cujo aluno médio pouco me identifico e que portanto pouca motivação em mim produz, aliada à rigorosa cobrança de presença e pouco ou nenhum reconhecimento e crédito da pura inteligência... Só podia mesmo era dar merda.

Abri a geladeira e hesitei com a lata de coca-cola na mão. Um gatorade me faria sentir melhor. Troquei. Uma simpática senhora me atendeu no balcão e foi trocar o dinheiro.

Era isso, cumpriria com minha obrigação de terminar aquele curso já encaminhado, mas faria a vida em outro lugar. Chega de sofrer à toa. Prestaria vestibular no fim do ano para uma carreira e curso com os quais realmente me identificasse. Era uma decisão concreta.

Nesse ponto a senhora voltara com o troco e me disse:
- Vi que mudou de idéia, e se me permite dizer, fez muito bem.

Um aprazível calafrio percorreu meu corpo até minha cabeça, formigando, afável, até as pontas das orelhas.